segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Gastronomia É Cultura/Eu Como Cultura

Dou uma pausa nos molhos para falar da campanha Gastronomia É Cultura/Eu Como Cultura. O Projeto de Lei 6562/13, em análise na Câmara dos Deputados, inclui a gastronomia nacional como segmento que poderá ser beneficiado pela política de incentivos fiscais da Lei Rouanet (8.313/91).

A proposta, do deputado Gabriel Guimarães (PT-MG), permite que pessoas e empresas doem ou patrocinem, com dedução no Imposto de Renda, eventos, pesquisas, publicações, criação e manutenção de acervos relativos à gastronomia brasileira.

O Projeto de Lei recebeu parecer positivo pelo deputado (apontado em comissão) Jean Wyllys (PSOL-RJ) no dia 03/12/2014, na Comissão de Cultura.

Agora o PL 6562/13 precisa ser apreciado e aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação e depois pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Não há data prevista para análise.

Se o Projeto de Lei for aprovado nas duas Comissões seguirá para análise no Senado.

O Instituto ATÁ pretende entregar uma petição ao Congresso no início de 2015. Para isso, iniciou uma mobilização nas redes sociais – tendo como mote a hashtag #eucomocultura – e em postos de coleta físicos para arrecadação das assinaturas.


O PL 6562/13 pode ser lido aqui

O doutor em sociologia pela Unicamp e pesquisador-colaborador do Departamento de Sociologia dessa instituição Carlos Alberto Doria já escreveu sobre esse assunto. Um dos maiores estudiosos da gastronomia no Brasil aponta que não há planejamento público ou investimentos para o fomento da alimentação e da gastronomia como itens de pesquisa, inclusão social, força econômica e patrimônio cultural. Com exceção do programa Pronaf (Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar).

Mas o crítico também aponta falhas na campanha Gastronomia É Cultura/Eu Como Cultura porque ela também poderia ajudar na discussão do que é gastronomia no Brasil de hoje. Doria aponta que a modernidade exagerada do termo gastronomia ou ligação demasiada com o mercado, em vários setores da sociedade, também pode colaborar para excluir os apoios para as manifestações mais populares de alimentação no país.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cânones e variações dos molhos/fundos – parte 2

O caldo de carne é feito com osso de vaca ou de vitela. O osso antes é tostado a 230º C por 40 minutos. Isso dá sabor e uma cor escura. Os ossos assados ganham um caramelado e o excesso de gordura é derretido. Pode ser 1,5 quilo de osso para 3 litros de água, por exemplo.

O ideal é fazer o preparo do caldo em um caldeirão. O restante da receita é similar ao fundo de vegetais. Uma receita que aprendi com o amigo Sandro Costa. Refogue 2 cenouras em mirepoix. Coloque 1 alho-poró, 1 talo de salsão picados. Colocar uma cabeça de alho e uma cebola brûlée (cortada ao meio e queimada em chapa ou frigideira com pape alumínio até ficar bem escura). Abaixar o fogo e deixar murchar um pouco.



Colocar o osso, mexer bem tudo. Adicionar extrato de tomate no centro. Aumentar o fogo e mexer. Juntar uma xícara de vinho tinto e deglaçar, ou seja, raspar o fundo da panela, pode colocar um pouco de água para ajudar.

Depois colocar água até metade do caldeirão e aumentar o fogo. Adicionar um bouquet garni e deglaçar mais. Quando atingir a fervura, colocar o fogo no mínimo.

Algumas receitas falam que o cozimento dura até 4 horas, outras até 8, retirando sempre a gordura da superfície com uma escumadeira. Mas dependendo da quantidade de ingredientes e da sua vontade você pode cozinhar por 3 dias esse caldo. Fica forte e uma delícia. Mas quando for dormir desligue o fogo. No dia seguinte, ligue, deixe pegar fervura e coloque no mínimo de novo.

Quando decidir que está pronto, ou o gás acabar J, despeje o caldo com uma concha numa peneira fina sobre uma tigela ou bowl.


E seja qual for o caldo, nunca tampe a panela e não adicione sal pois se trata de uma base. O sal é acrescentado no preparo final de uma receita da qual o fundo é também um dos ingredientes. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Cânones e variações dos molhos/fundos – parte 1

E no princípio Deus fez o caldo e viu que era bom. Podia começar assim a bíblia da comida, e provavelmente alguém já deve ter usado isso em algum livro. O caldo, ou fundo, é o líquido coado que resulta do cozimento de aves, carne ou peixe em água com legumes e temperos. É a base para muitas sopas, molhos e ensopados. E base para infinidade de pratos.

Caldos preparados têm melhor sabor, são mais aromáticos e menos salgados do que os industrializados. A grande maioria dos caldos preparados tem ainda um acompanhante, o bouquet garni.

O bouquet garni nada mais é do que um conjunto de ervas aromáticas destinado a temperar pratos e molhos em diversas receitas culinárias. O nome francês é internacionalmente utilizado para designar um ramalhete feito de ervas. A mistura clássica é tomilho, louro, salsa e aipo embrulhadas nas folhas escuras de alho-poró, bem amarradas com barbante. Usado em pratos de cozimento lento, vai liberando aos poucos seus sabores.

Para remover facilmente o bouquet garni no final do cozimento, deixe um pedaço grande de barbante e amarre-o no cabo da panela, ou ponha o bouquet num saco de musselina.

Nos caldos também vão o mirepoix, uma mistura de vegetais usada para dar sabor e descartada no final. Uma vez pronto o fundo, molho ou assado, o líquido resultante é coado e os sólidos são desprezados. É que esses vegetais já perderam praticamente todo seu sabor durante o cozimento.

O tamanho dos vegetais deve ser proporcional ao tempo de cocção e ao tipo de produto final. Muitas vezes, metade da cebola é substituída por alho-poró. A proporção básica é 50% de cebola (ou 25% de cebola e 25% de alho-poró) + 25% de salsão + 25% de cenoura.

No mirepoix branco a cenoura é substituída pelo alho-poró para garantir que a preparação final mantenha a coloração clara. A proporção básica é 25% de cebola + 25% de alho-poró + 25% de salsão + 25% de nabo ou de apara de cogumelo-de-paris.

Os caldos também podem levar o sachet d’épices, que é um saquinho de gaze com ervas e especiarias, como louro, pimenta-do-reino em grão, talos de salsa e tomilho. Opcionalmente, pode-se acrescentar ainda cravo-da-índia e alho. É usado como se fosse um saquinho de chá. O seu conteúdo pode ser alterado já que a combinação de aromas é infinita.

Um dos fundos mais simples e mais usados na cozinha é o de vegetais. Tudo começa com a técnica de suar os vegetais, ou seja, submeter um alimento a aquecimento gradual em óleo para liberar seus sucos. Podem ser usados picados cebola, alho-poró, salsão, cenoura, nabo, tomate e alho. Depois tudo é coberto com água e espera-se levantar fervura.

O fogo deve ser depois abaixado para temperatura branda e adicionado o sachet d’épices, que pode levar no saquinho também 2 cravos-da-índia e erva-doce). Isso deve ficar 30 minutos no fogo e depois o líquido deve ser coado e resfriado. Se ficar gordura na superfície deve ser retirada com uma colher.

Os ingredientes usados também podem variar muito, desde que existam vegetais aromáticos. Uma noção de medida pode ser 450g para os vegetais e 2 litros de água para fazer cerca de 1,5 litro de caldo. Muitas pessoas também preferem usar o bouquet garni no lugar do sachet d’épices.
O caldo pode ficar na geladeira até 3 dias ou congelado por 1 mês.

Fontes:
"Le Cordon Bleu - Todas as técnicas culinárias", Jeni Wright, Eric Treuille, Editora Marco Zero
"400g - Técnicas de Cozinha", Betty Kövesi, Carlos Siffert, Carole Crema e Gabriela Martinoli, Companhia Editora Nacional

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Alimentos industrializados X alimentos mais artesanais

Alimentos industrializados são benéficos financeiramente e fornecem ganho de tempo para milhões consumidores e também para milhares de restaurantes (a BRF tem um prêmio só para produtos que ajudam o cozinheiro a quebrar etapas, diminuir o tempo de preparo dos pratos, reduzir o número de etapas do processo)

Mas infelizmente o ser humano, de qualquer país, com algo que faça bem para o bolso e economize tempo vai ficar viciado. O país com melhor gastronomia do mundo também tem casos de comida congelada nos restaurantes

Mas, claro, o excesso de alimentos industrializados é péssimo para o sabor e para a saúde. Deveriam ser só uma opção ocasional para as pessoas ou só usado com parcimônia pelos restaurantes

Na França é interessante que isso virou polêmica nacional e rapidamente vieram consequências

Na minha opinião essa reação ocorreu lá dois motivos: educação e ativismo.

Primeiro, exemplo da educação. No documentário "Muito além do peso" (Estela Renner) um dos depoimentos é do chef britânico e apresentador de TV Jamie Oliver. O filme tinha imagens dele porque ele se tornou um grande defensor de bons hábitos alimentares para as crianças. Ele fez uma série viagens ao EUA para mostrar como eram os hábitos alimentares de famílias de cidades pequenas. Elas viraram programas de TV.

Esses programas são dramáticos porque ele encontrou muitas famílias que não sabiam cozinhar absolutamente nada, que não ligavam seus fogões há meses. Tudo que eles consumiam era congelado ou delivery. O Oliver ensinou a cozinhar a essas famílias, mostrou como utilizar os alimentos e conseguiu criar a fundação Food Revolution para mudar cardápios em escolas e para que mais pessoas ensinem outras a cozinhar e conhecer alimentos

Aqui alguns vídeos do programa

Na educação, para mim os profissionais de alimentação sempre podem disseminar esse bom conhecimento nos seus trabalhos e vida familiar e social. Ensinar o que é alimentação alternativa e saudável e sempre procurar utilizar processos e produtos que sejam mais naturais e saudáveis.

Claro, na vida real sempre vai faltar dinheiro, mas se não houver pessoas pelo menos tentando mostrar caminhos diferentes a alimentação saudável vai continuar sendo mais trabalhosa e mais cara

O segundo ponto, ativismo. Temos alguns alimentos que no Brasil são “proibidos” praticamente. A Anvisa exige uma padronização excessiva para a produção de alimentos e para os tipos de alimentos com a sempre justificativa de que outros modos podem trazer riscos para a saúde

Entram nessa lista o queijo de leite cru (como o produzido na Paraíba por produtores de cabra); algas marinhas para produção de agar-agar (há produções no Ceará de espécies alternativas que a Anvisa não aceita); o mel de abelhas nativas (o mel que estamos acostumados a comer é extraído de abelhas que foram trazidas para o país da África e da Europa e geram um produto com menos umidade, mas o Brasil tem várias abelhas que são nativas e geram mel mais úmido e saboroso, como o feito no Pará); algas marinhas (há produções em Santa Catarina de espécies alternativas que a Anvisa não aceita); e carne de pequenos produtores (produção de carneiro no Rio Grande do Sul feita com métodos artesanais)

Esse é o chamado iramel. Mel produzido pela abelha Uruçu-Cinzenta, espécie nativa do Brasil e que não tem ferrão. A produção é em Bragança (PA)
O grande problema é que a Anvisa vê como mais simples proibir tudo do que respeitar cada pequena produção, algumas com mais de 100 anos, e tentar impor normas sanitárias exclusivas que controlem, mas não proíbam a comercialização em larga escala. Quem disse isso, na ordem dos alimentos acima, foram os chefs Guga Rocha, Ivan Prado e Lia Quinderé, Thiago Castanho, Alex Atala e Floriano Spiess no MESA SP 2014.

Todos afirmaram que esses produtos são melhores do que similares importados e industrializados e por isso usam eles em suas cozinhas. São produtos mais caros por causa das limitações impostas pela Anvisa e pelo modo de produção diferente, mas fazem isso pelo diferencial de um restaurante gastronômico e também porque usar esses produtos é um ato político – mostra para o público que o produto brasileiro artesanal está sendo valorizado

O movimento Slow Food também faz muito disso com o projeto Arca do Gosto, que é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais

Outra forma de ativismo, o ATÁ, instituto criado pelo Alex Atala, está colhendo assinaturas para transformar a gastronomia em patrimônio cultural brasileiro a partir de projeto no Congresso. Isso deve tornar mais fácil pequenos produtores defenderem seus alimentos e consequentemente esses produtos serem mais facilmente encontrados

O Guga Rocha, por exemplo, disse que o queijo de leite cru passou por todas essas proibições na França também. Mas só que lá isso foi resolvido há muito tempo, mais de 100 anos. Como a gastronomia e boa alimentação é entendida lá como patrimônio do país rapidamente as pessoas sinalizaram e protestaram sobre que proibir o queijo de leite cru era um absurdo. E realmente, queijo de leite cru é uma delícia.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Oh musa

O nome científico da banana é Musaceae paradisiaca, ou dividida em subespécies como a Musa cavendishii (banana-nanica e afins), Musa sapientum (banana-prata e similares) e Musa paradisiaca (banana-da-terra ou banana-comprida, e afins), pertencentes à família das musáceas e, de acordo com o Pequeno Dicionário da Gula, de autoria de Márcia Algranti, existem mais de trinta espécies apenas em terras brasileiras. Seu consumo pode ser feito ao natural, apenas sendo necessária a retirada de suas cascas, ou ainda cozida, frita, assada ou como compota.
Existe só uma variedade nativa do Brasil, a banana-da-terra. Todas as demais, como banana-prata, banana-figo, banana-ouro, banana-maçã, banana-nanica e banana-robusta, são originárias de países africanos ou do Extremo Oriente, mas se adaptaram em solo brasileiro.
banana-da-terra
A bananeira foi descrita no século XVIII, pelo botânico sueco Lineu, como Musa sapientum, o que pode ser traduzido como "o fruto do homem inteligente". Porque na Árabia os eruditos costumavam descansar à sua sombra.
Ele tirou Musa da palavra árabe "mouz", que é banana derivada do sânscrito "moka", ou da cidade do café na Árabia do Sul. Paradisiaca é outra referência aos árabes, que afirmavam ser a bananeira a Árvore do Paraíso, ou seja, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
As bananas verdes são para cozinhar, fritar e servir como uma hortaliça amena. Possuem a mesma quantidade de calorias que a batata. A casca pode ser resistente: faça uma incisão ao comprido, ao longo dos ângulos, corte e puxe para convencer as tiras a soltarem a fruta que vem dentro. Para algumas receitas faz-se a incisão na transversal, deixam-se as fatias de molhos em água salgada e depois pipocam-se os pedaços para fora dos anéis de casca.
Bananas verde-amareladas podem ser usadas para substituir o tipo verde. Podem também ser guardadas até ficarem mais maduras. Numa casa aquecida logo ficam da cor amarela costumeira, em seguida amarelas manchadas de marrom, ponto em que começa a valer a pena serem comidas.
À medida que vão ficando completamente marrons, suavizam-se a um mel translúcido, ideal para doces musses, sorvetes e sanduíches. Nesse estágio aromático final elas podem ser realçadas por um pralinê (doce feito com alguma castanha envolvida em açúcar e cristalizado) ou amêndoas tostadas; nozes combinam num estágio ligeiramente anterior.
Rum é a bebida alcoólica mais recomendada para a banana. O coco é um bom companheiro, bem como todos os tipos de laticínios e coisas da fazenda: do iogurte, creme de leite e queijos frescos macios aos ovos, bacon e frango. Frutas que combinam com bananas: damascos, limão e laranja, morangos e framboesas. O suco dos cítricos evita que a banana em fatias tome uma coloração escura, mas não é uma boa ideia deixar saladas de banana esperando muito tempo.
Além dos tradicionais doces feitos com a fruta madura, é possível usar uma pasta, chamada de biomassa, que é a polpa da banana verde em preparos salgados e doces. Uma das receitas mais antigas de banana no Brasil é de um peixe azul que é preparado pelos caiçaras do litoral de São Paulo e cujo nome deriva da coloração conferida pelo tanino da banana.
As pacovas ou bananas-da-terra, que os espanhóis chamam de plátano, em geral são mais tolerantes à estiagem do que as bananeiras para consumo ao natural, estas são, porém, mais suscetíveis a pragas, apresentam lenta produção de brotos, baixa longevidade e, consequentemente, menor produtividade e rentabilidade. Embora sejam parecidas por fora, a pacova é menos doce e mais densa devido a menor porcentagem de água e maior reserva de carboidratos, sendo consumida ainda verde e cozida.
A bananeira não é uma árvore. Ela não possui tronco nem galhos; é, na verdade, uma erva-gigante, a maior da face da Terra. A banana é a quarta cultura mais importante do planeta perdendo apenas para o arroz, o trigo e o milho. É fruta tropical mais consumida no mundo.
Em várias culturas do mundo nada da bananeira é desperdiçado. Quando verde, a ponta do cacho cortada fornece líquido suficiente para matar a sede ou lavar a mãos. O coração, que tem sabor semelhante ao do pepino, é consumido como alimento e, quando deixado secar ao sol, é empregado como combustível. A folha da banana pode ser convertida em pratos, garfos, e, ressecadas, substituem a palha para cobrir choças. Bastante fibrosa, é muito utilizada na confecção de cordas, barbantes ou para assados. Também serve como teto de abrigos provisórios, embalagem improvisada, atadura de emergência e mesmo para fabricar papel.
No líquido acumulado entre as folhas e o caule, a gente simples encontra alívio para picadas de aranhas, vespas, escorpiões e até de cobra. Com a fruta em si é possível fazer também vinho, açúcar, vinagre e pão. Também a consomem como legume, e a flor da bananeira é transformada em pó e misturada ao rapé.
Moqueca
Com banana-da-terra é possível fazer uma moqueca sem peixe. O preparo é muito semelhante a uma moqueca baiana. O ideal é cortar a banana em três fatias grandes e essas cortar ao meio, para ficar mesmo parecido com uma posta de peixe, como indica a Bela Gil. E temperar como peixe também, com sal, limão e alho picado.
A melhor panela para fazer é a de barro, por causa do cozimento mais lento. Eu não tenho, então a primeira vez que fiz queimou um pouco no fundo. Aprendi que em panela de inox você tem que cozinhar em fogo alto só metade do tempo.
Você liga o fogo alto para esquentar a panela. Refoga ½ cebola picada, 1 tomate picado e 1 pimentão em rodela no azeite de oliva com 1 pitada de sal. Adicione a banana-da-terra e pimenta a gosto. Adicione ½ cebola fatiada, 1 tomate em rodelas, coentro e leite de coco. Deixe ferver por 10 minutos com a panela tampada, sendo 5 em fogo alto e 5 de baixo. Abra e coloque 2 colheres de azeite de dendê.

Moqueca de banana
Fontes:
"Yes, nós temos bananas - histórias e receitas com biomassa de banana verde", Heloisa de Freitas Valle e Marcia Camargos, Editora Senac São Paulo
"O livro das frutas", Jane Grigson, Companhia das Letras
"Pequeno Dicionário da Gula", Márcia Algranti, Record

domingo, 12 de outubro de 2014

Tucupi e derivados da Mandi

Volto a falar no tucupi. Mas para ser entendido melhor é preciso falar primeiro da sua mãe: a mandioca, talvez o alimento mais valioso do Brasil.

Segundo a lenda indígena, um casal de índios esperou por muito tempo a chegada de uma filha mulher. Quando ela nasceu, recebeu o nome de Mandi, que significa “branca”, por ter a pele muito clara. Um belo dia, Mandi ficou gravemente doente e morreu, apesar de todos os esforços da tribo em salvá-la.

Os pais resolveram enterrá-la no centro de uma oca, para que pudessem estar sempre perto de seu corpo. Despejaram tantas lágrimas sobre o túmulo da menina que nasceu ali uma planta. Sua raiz era clara como a pele de Mandi. Por isso, a novidade foi batizada de Mandioca.

A mandioca constitui um dos principais alimentos energéticos utilizados no país. Mais de 80 países já produzem a raiz e o Brasil participa com mais de 15% da produção mundial.

Existem dois tipos, a brava e a mansa. A mandioca brava apresenta um alto valor de ácido cianídrico, substância tóxica que a torna inadequada para o consumo humano sem o devido processamento. Ela é utilizada no preparo da farinha de mandioca, polvilho (goma) e o tucupi.

A mandioca mansa apresenta valor menor de ácido cianídrico e dela se prepara a farinha suruí (farinha de mesa) e o carimã (fécula de mandioca). A própria raiz pode ser consumida quando cozida em água e sal.

No Norte, a polpa da mandioca é espremida por um instrumento que se utiliza da força da gravidade – o tipiti, uma trança de palha comprida.
Alguns modelos de tipitis

No Sul também se usa uma trança de palha, com o formato de uma cesta, chamado de tapiti. Ali, o processo é feito com uma prensa mecânica.

A mandioca amarela produz uma excelente farinha. A polpa é ralada e espremida; o caldo é recolhido e reservado. A farinha é feita da massa restante, após secagem em tacho ou pedra.

O caldo que resulta quando se espreme a polpa da mandioca amarela e branca compõe-se de amido e água. O amido concentra-se no fundo: é a tapioca.

Somente o líquido da mandioca amarela que sobra, fermentado, é o tucupi.

A goma da tapioca é o amido com maior concentração de líquido. O polvilho, azedo ou doce, é o amido da mandioca branca.

Tempero
Tucupi se usa com arroz, pato, frango, peixe... é um tempero muito comum no Norte do Brasil. Um prato famoso, de festas por lá, é o tucupi no tacacá, que é uma fervura de camarões secos e ervas, como o jambu. Se junta, para espessar, a tapioca e serve-se numa cuia que na Amazônia chama-se tacacá.

O tucupi, após extração e a fermentação, contém muitas toxinas e precisa de uma grande fervura para eliminá-las. Por isso é bom comprar de alguém confiável.

Frango no tucupi
A primeira receita que fiz com o tucupi foi usando frango assado. É preciso de 1 litro de tucupi, 1 frango, 1 maço de chicória, 1 maço de jambu e 3 dentes de alho inteiros para colocar no tucupi. O frango pode ser temperado limão, alho, sal, pimenta-do-reino e cheiro verde a gosto.

O frango é melhor temperar de véspera, cortado em pedaços. Depois é assar e deixar reservado.
O tucupi deve ser colocado para ferver com os dentes de alho, quando estiver fervendo abaixe o fogo e coloque o jambu e a chicória e deixe cozinhar mas um pouco, mais ou menos uns 10 minutos.
Coloque o frango assado dentro do tucupi e deixe cozinhar uns 20 minutos.
Frango no tucupi


Fontes:
Um, dois, feijão com arroz: a alimentação no Brasil de norte a sul. Mauro Fisberg, Jamal Wehba e Silvia M. Franciscato Cozzolino. Editora Atheneu.

Alex Atala, por uma gastronomia brasileira. Alex Atala e João Gabriel de Lima. BEÍ Comunicação. 

http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/alimentos_regionais_brasileiros.pdf

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

México

A culinária mexicana não se resume apenas a tacos e salsas picantes (eu pensava isso). O mundo está descobrindo os ricos pratos mexicanos. Esse movimento começou por volta de 1970 com os livros da inglesa Diana Kennedy mostrando a cozinha regional do México e os inúmeros ingredientes usados, como a flor da abóbora e a carne das opúncias (plantas da família das cactáceas, como a palma).

Opúncias

Muitos pratos indígenas são mantidos inalterados por séculos e também houve a incorporação na culinária de frutos, legumes, carnes, cereais e especiarias vindos da Europa. Isso causou o enriquecimento dos pratos, como os crepes de cogumelos, tigelas fumegantes com menudo (miúdo), carne de porco assada no espeto temperada com achiote (urucum) e laranja amarga e limas cristalizadas recheadas com coco ralado.

Os cereais desempenharam um papel central na cozinha mexicana. Há milhares de anos os caçadores nômades descobriram que podiam obter alimento substancial perfurando o solo com uma vara e introduzindo uma semente de milho. A planta era colhida, o milho era debulhado, preparado e consumido. Estes agricultores forjaram o padrão de uma cultura que se manteria durante cerca de três mil anos, como os Olmecas na costa do golfo do México e os Zapotecas nos vales elevados do sudoeste do país.

Quando os colonizadores europeus chegaram na região que seria conhecida como México floresciam vastas civilizações agrícolas. A tríade vegetariana – abóbora, feijão e milho – constituía o principal sustento do povo, embora nobres e sacerdotes comessem iguarias como codornizes e perus, pequenos cães sem pelo, peixe e caça selvagem e bebessem pulque (bebida alcoólica feita de agave) e o chocolate. O atole, uma papa de milho, era a primeira refeição do dia e a principal eram os tamales (espécie de pamonha), tortilhas e estufados, temperados com as pimentas chiles que faziam arder a boca.

Os colonos espanhóis trouxeram também uma cozinha impregnada do domínio mouro em gerações passadas. Vieram não só o gado e a criação, como também o trigo, o arroz, as cebolas, os alhos, os cítricos e a cana-de-açúcar. Os espanhóis também tiveram com os mexicanos os primeiros acessos ao milho, à grande variedade de feijões, aos amendoins, à batata doce, às abóboras, ao tomate e ao amaranto. As novas frutas também modificaram o paladar europeu e mundial, como o abacaxi, a goiaba, a papaia e o abacate, bem como o sabor da pimenta chile, do chocolate e da baunilha.  

O México foi dominado pela aristocracia espanhola durante cerca de 300 anos. Em 16 de setembro de 1810 o país proclamou sua independência. Após isso o país viveu outra fase de criação culinária: o México teve cerca de 50 anos de guerras civis com exércitos improvisados percorrendo montanhas e vales, com isso homens e mulheres tiveram que se adaptar a ingredientes de comunidades indígenas locais e também levavam seus conhecimentos culinários.

As guerras só terminaram quando os grupos conservadores se aliaram a Napoleão III da França. O México passou a ter um regime imperial em 1864, com Maximiliano e sua mulher Carlota. Eles instalaram no país uma cozinha europeia sofisticada trazendo um chef de cozinha húngaro, Tudor.
Mas o país continuou em conflito. Em 1876 o general Porfírio Diaz tomou o poder e ficou por 30 anos. Ele criou sua própria aristocracia, mas que manteve a influência europeia na culinária. Esse período durou até a Revolução Mexicana em 1920, com Emiliano Zapata e Pancho Villa. As mulheres, conhecidas como soldaderas, não só lutavam ao lado dos homens, como levavam consigo as comales (panelas de ferro) e cazuelas (panela de barro).

Com a estabilidade política a partir de 1930 o México teve um movimento de artistas e intelectuais para interpretar os valores do passado mexicano e promover o orgulho por sua herança. Na gastronomia isso representou uma lenta reavaliação criativa. Em boa parte do século XX os chefs e cozinheiros dos melhores restaurantes mexicanos davam importância demasiada a cozinha europeia.

Mas em 1981 um grupo de cozinheiros mexicanos criou o Círculo Mexicano de Arte Culinária, uma união para preservar, aperfeiçoar e promover os pratos regionais do México. A alimentação no país varia com a região, dependendo da população indígena original e das influências dos espanhóis e de outros povos a que essas regiões foram expostas.

Por exemplo, o norte do México é conhecido pela sua produção de carne de vaca e pratos de carne, enquanto que o sudeste do México é conhecido pelos seus pratos condimentados baseados em vegetais e carne de galinha. A culinária mexicana também combinou-se com a culinária do sudoeste dos Estados Unidos, formando a culinária tex-mex.

Em 16 de novembro de 2010 a culinária mexicana foi reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. Recentemente também foi estabelecido o Conservatório da Cultura Gastronômica Mexicana, cujo objetivo é salvaguardar a raízes, identidade e continuidade da culinária do México.

Uma das técnicas culinárias mais famosas do México, presente em várias cerimônias, é a fabricação de pães. Cada estado, município e cidade tem o seu próprio pão. Prova disso são os muitos pães cerimoniais enraizados na cultura popular, especialmente desenvolvidos para as datas tradicionais como o el pan de muerto, a Rosca de Reyes, o pão de casamento ou o pão da Quinta-feira Santa.
O pão dos mortos é um dos componentes mais importantes das ofertas que são feitas nos dias 1 e 2 de novembro nas casas do México em honra de Todas as Almas. A origem deste pão vem de uma fusão de tradições pré-hispânicas e europeus.

El pan de muerto

No antigo México se costumava consagrar aos deuses o coração de uma donzela, que era revestido com amaranto. Após a conquista espanhola, a tradição mexicana foi modificada pela substituição do coração humano pelo pão com esta forma e feito de açúcar vermelho. Ao longo do tempo tem havido maneiras diferentes de fazer este tipo de pão para oferendas, de acordo com as tradições de cada comunidade mexicana. Por exemplo, na Mixteca Puebla os pães são feitos com formas humanas e são polvilhados com açúcar branco se eles são oferecidos às crianças mortas ou açúcar vermelho para os adultos.

Fontes:
PALAZUELOS, Susanna; TAUSEND, Marilyn. México: o mais belo livro de cozinha. Verbo: 1991. Lisboa/São Paulo.

http://www.ccgm.mx/

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ahhh... raruta

Tem ingredientes que compramos só para uma receita e acabamos jogando fora o resto por ignorância ou pura preguiça mesmo. Eu tinha farinha de araruta em casa que comprei para fazer um pastel de forno no começo do ano. Até que ficou bem bom, mas acabei não fazendo mais. Aí a araruta ficou lá esquecida.
Outro dia olhei o armário e topei com ela. Deu remorso. Não é todo lugar que você encontra farinha de araruta, só fui achar em mercadões, e agora ela estava esquecida e estragando. Resolvi fazer algo com ela, mas não estava a fim de comprar nada. Aí fui pesquisar um modo de aproveitá-la.
A araruta é uma raiz parecida com a mandioca, mas que dá uma farinha branquíssima e finíssima. Quase como um polvilho. O preparo mais famoso são as brevidades, que são bolinhos fofos sem manteiga, sem fermento e sem leite. Mas como? Só vai ovo (claras em neve) e açúcar. Mas como não tenho batedeira nem estava a fim de bater na mão fui atrás de outra receita.
Encontrei os biscoitos, nos quais só é necessário ovo, açúcar e manteiga. Fui lá fazer... Lembra dos biscoitos dourados e que derretem na boca que as vós faziam ou que as padarias faziam mais no passado? Fica igual!
Abaixo está a receita que adaptei do meu jeito e com as medidas proporcionais de blogs muito legais como esse aqui.
100 gramas de manteiga semi derretida no banho-maria
70 gramas de açúcar
200 gramas de araruta
½ xícara de coco ralado
1 ovo
Misture todos os ingredientes. A massa fica uma bola e solta das mãos, se precisar coloque um pouquinho mais de araruta.
Faça bolinhas pequenas e achate-as com um garfo ou na mão mesmo.
Coloque em uma assadeira untada e enfarinhada e leve ao forno até ficarem duros, mas não como pedra, um garfo tem que entrar com certa facilidade. Cerca de 25 minutos no forno pré-aquecido em 160º C.
Retire do forno, deixe esfriar e guarde em um pote bem fechado.
A araruta é uma planta perene, cultivada por seus tubérculos subterrâneos – que são quase amido puro – e encontrada nas Antilhas, no Sudeste Asiático, na Austrália, na África do Sul, nas Guianas e no Brasil. Os tubérculos são ralados, lavados, secados e moídos.
O pó resultante é usado também para engrossar molhos, pudins e sobremesas. Mas a araruta engrossa molhos a uma temperatura mais baixa do que a maisena. Portanto, é melhor e mais usada para cremes e pudins que contenham ovos, porque estes talham facilmente a temperaturas mais altas.

Ficou assim o biscoito


Fontes:
"O que Einstein disse a seu cozinheiro: a ciência na cozinha: inclui receitas", Robert L. Wolke, Editora Zahar
http://come-se.blogspot.com.br/

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cortar para aumentar

Pode não parecer mas uma parte essencial de cozinhar não é apenas a escolha dos melhores ingredientes ou saber técnicas de cocção – saber usar corretamente uma faca faz muita diferença nos sabores dos pratos.
Veja os legumes. Ao ferver pedaços grandes de cenoura, cebola, alho-poró, cogumelos e tomate, os legumes desprenderão o sabor lentamente ao longo de vários dias, o que resultará em um ótimo caldo.
Mas se picar esses legumes miudinhos, haverá uma área de superfície de contato maior com o calor e eles rapidamente darão sabor ao líquido.
Se cortados em tamanhos intermediário, fritos, passados na farinha e assados, emprestarão cor, doçura e corpo a, por exemplo, a um molho madeira.
A cozinha francesa criou vários cortes que são usados no mundo todo:

Brunoise:
Corte em cubos bem pequenos e uniformes. Geralmente os legumes cortados em brunoise são usados em molhos e refogados.
Jardinière:
Corte em bastões finos, longos e uniformes.
Macedoine:
São cubos maiores que os feitos em brunoise. Esse corte pode ser usado em cebolas, cenouras, aipos, nabos…
Paysanne:
É o mais livre de todos os cortes. Pode ser feito em formatos de círculo, quadrado e até meia-lua. Porém, os legumes devem ser cortados finos e não com espessura grossa.
Julienne:
São tiras fininhas, longas e uniformes. Talvez esse seja o tipo de corte mais básico na cozinha. A maioria das raízes são carnudas e firmes e podem ser cortadas em tiras longas finas. Cozinham em pouco tempo, na fervura, no vapor ou no refogado, e dão ótimas guarnições.
Chiffonade:
Esse corte é semelhante ao formato do julienne, ou seja, tiras bem fininhas, só que feito em folhagens, como alface, espinafre, couve…

Os cortes mais usados na cozinha profissional são brunoise, julienne e chiffonade, mas sempre é necessário usar uma boa faca afiada para facilitar o trabalho e ter mais segurança.
Na internet existem muitos vídeos que ensinam, como este:



Outra ótima opção são as mandolines, para picar legumes firmes como tubérculos e raízes. Esses raladores vêm com uma lâmina finas, outras mais grossas em forma de grade e um cortador ondulado. Têm também um suporte que protege os dedos e firma o legume. 
Mandoline
Fontes:
"Facas e cortes - Técnicas para cortar, trinchar, picar e filetar legumes, peixes, carnes e frutas", Charlie Trotter, Lyn Hall, Marcus Wareing, Shaun Hill, Editora Publifolha. 
"Le Cordon Bleu - Todas as técnicas culinárias", Jeni Wright, Eric Treuille, Editora Marco Zero
http://gastronomismo.com/

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Mundão de alimentos

O Ministério da Saúde catalogou uma lista de mais de cem alimentos do Brasil com potencial ou que já são consumidas.
É o estudo "Alimentos Regionais Brasileiros", que pode ser baixado de graça aqui.
Lá é possível conhecer plantas como o jambu, uma hortaliça muito comum na região Norte. É parecida com o agrião e vai em pratos como o pato no tucupi e o tacacá.
O guia só não menciona que o jambu causa algo maluco na boca. É uma sensação causada pela substância espilantol, que produz gelado e anestesia suave na língua e céu da boca. Isso aumenta a saliva e deixa o paladar mais apurado. Uma outra oportunidade falo mais sobre o jambu e seu fiel parceiro tucupi.
Pés de jambu

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A cuca e o fermento

Ficou assim a minha cuca

O modo como se faz a cuca alemã, bolo muito apreciado no sul do Brasil, mostra bem como funcionam alguns conceitos básicos da fermentação.

A receita começa em uma tigela, onde é misturado uma xícara (chá) de leite morno com 2 tabletes de fermento biológico (30 g) e metade de ½ xícara de açúcar. Junte depois 1 xícara de farinha e mexa até ficar homogêneo. Cubra com filme plástico ou pano úmido e deixe crescer em local aquecido por 30 minutos, é a pré fermentação primária nessa receita, que pode ser chamada esponja. Pode ser feita também em um forno com apenas 25 ºC.

Os líquidos usados para fazer o pão devem estar levemente mornos, com no máximo 30 ºC, pois se forem quentes, matarão o fermento, e se forem frios, farão com que a massa demore mais para crescer. A diferença entre usar água ou leite na receita de pão, é que a água produz uma casca crocante, enquanto que o leite favorece a formação de uma casca macia e um miolo mais branco.

Uma pequena quantidade de açúcar ajuda na reprodução das células de fermento, com relativa produção de gás que fará crescer a massa do pão, porém uma quantidade maior atrasará o crescimento, pois junto com o gás, o fermento também secreta álcool, que acaba interferindo no próprio fermento. Por isso os pães doces requerem mais fermento, ou levam mais tempo para crescer do que os salgados. O açúcar acrescenta sabor ao pão e favorece a formação de uma casca mais dourada.

A fermentação é o processo pelo qual enzimas (amilases ou diástases) presentes na farinha transformam açúcares em álcool e gás carbônico. Estes açúcares, a glicose e a sacarose, estão presentes na farinha com teores na faixa de 1% a 2% do peso e serão os primeiros a serem utilizados no processo de fermentação. A primeira fermentação pode durar cerca de 3 horas, dependendo da receita.

Na primeira fermentação as diástases das leveduras transformam os açúcares em CO2 e álcool. Essas diástases são chamadas de invertina, ou invertase, e cimase, e cada uma delas tem a capacidade de transformar um só tipo de açúcar. A invertase converte primeiramente a sacarose em glicose, que, em seguida, se transforma em dióxido de carbono e álcool. A cimase, por outro lado, transforma a glicose diretamente em CO2 e álcool.

Em seguida se produz uma segunda reação química, quando as amilases e as diástases transformam os amidos em açúcares chamados maltoses. Esses novos açúcares (3%) formados no mesmo processo de fermentação serão utilizados pelas leveduras e, consequentemente, irão se transformar em álcool e gás carbônico.

De volta para a receita
Depois dos 30 minutos, deve-se peneirar em outra tigela 5 xícaras de farinha e metade de ½ xícara de açúcar. Acrescente 1 colher de chá de sal. Adicione essa mistura, aos poucos, à massa crescida.
Acrescente 3 colheres de sopa de manteiga e 3 ovos. Amasse bem e transfira a massa para uma superfície enfarinhada. Sove-a por 25 minutos, ou até ficar lisa e soltar das mãos. Volte a massa para a tigela e cubra-a com filme plástico. Deixe crescer por mais 30 minutos em local aquecido.

Sal em uma receita doce? Loucura? O sal acentua o sabor dos alimentos. O sal além de elemento de sabor, também ativa as papilas gustativas realçando ainda mais o doce e ainda reforça a massa para que suporte o esforço resultante da sova e do crescimento. Porém cuidado, o sal em demasia ataca o fermento e retarda, ou impede totalmente a fermentação.

Durante o processo de mistura e sova ocorre uma elevação da temperatura da massa, em virtude da fricção das pás da masseira ou por fricção das mãos contra a massa e a mesa de trabalho. Eu uso a velha e boa mão. Uma sova dura cerca de 25 minutos.

É importante lavar e secar bem as mãos, já que estarão em contato direto com a massa. Tire anéis, pulseiras, relógio ou outros acessórios que possam entrar em contato com a massa.

Na primeira vez que você afundar a mão na massa ela estará grudenta e difícil de juntar toda de uma vez só. Continue afundando as mãos na massa até ela parar de grudar nas mãos. Conforme você for trabalhando a massa, vá salpicando um pouco de farinha nela para ir parando de grudar nas suas mãos. Outro truque é ir polvilhando as mãos com farinha conforme você for trabalhando a massa.

Use a parte mais forte das mãos - a base da palma, aquela parte que fica entre o seu pulso e a altura do dedão. Afunde as mãos ao mesmo tempo na massa, empurrando-a para a frente. É esse processo que ajuda o glúten a se desenvolver. Continue sovando até que a massa fique elástica.

Dobre-a no meio e empurre-a para a frente usando a parte mais forte da palma das mãos, até que a massa fique achatada. Dobre-a no meio de novo e empurre-a para a frente novamente. Repita esse processo por 10 minutos ou pelo tempo que a receita pedir. O processo de trabalhar a massa deve ter um ritmo constante. Não sove a massa devagar.

A massa pronta deve ficar elástica e com a superfície lisa. Se ainda houver grumos, a massa ainda precisa de um pouco mais de sova. Modele-a no formato de uma bola e deixe-a cair sobre a mesa. Se ela estiver pronta, ela vai conseguir manter o formato redondo. Outro jeito de conferir se a massa está pronta é cutucando-a de leve. Se ela voltar ao formato original depois de ser cutucada, é porque está no ponto certo.

Para o forno
Na finalização da receita é necessário misturar uvas passas e frutas cristalizadas na massa. Unte uma assadeira com manteiga e polvilhe farinha de trigo. Abra a massa na assadeira, alise-a e deixe crescer por mais 30 minutos.

Disponha gomos de maçã sobre a massa e reserve. A maçã verde fica melhor. Aí é a fase da farofa doce que vai por cima. Peneire numa tigela 1 xícara de farinha de trigo com 1 xícara de açúcar e uma colher de chá de canela e misture a ½ xícara de manteiga derretida. Mexa com as pontas dos dedos até obter uma farofa e espalhe-a sobre a massa.

Aí vai para o forno médio, previamente aquecido a 180 ºC por cerca de 45 minutos.

Streuselkuchen é o nome em alemão do bolo (Kuchen) cozido em tabuleiro de chapa (Backblech), habitualmente feito de massa lêveda doce (Hefeteig) composta por farinha, levedura e açúcar, levando espalhada manualmente por cima uma mistura  chamada Streusel, a qual é composta por pequenos torrões (Klümpchen) e migalhos (Bröckchen) , que são feitos pela mistura de manteiga derretida, açúcar e farinha de trigo.

Fontes:
"O pão na mesa brasileira", vários autores, Editora Senac Nacional.
"Técnicas de padaria profissional", Paulo Sebess, Editora Senac São Paulo.
"O que Einstein disse a seu cozinheiro: a ciência na cozinha: inclui receitas", Robert L. Wolke, Editora Zahar
http://pt.wikihow.com/Sovar-Massas