segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cortar para aumentar

Pode não parecer mas uma parte essencial de cozinhar não é apenas a escolha dos melhores ingredientes ou saber técnicas de cocção – saber usar corretamente uma faca faz muita diferença nos sabores dos pratos.
Veja os legumes. Ao ferver pedaços grandes de cenoura, cebola, alho-poró, cogumelos e tomate, os legumes desprenderão o sabor lentamente ao longo de vários dias, o que resultará em um ótimo caldo.
Mas se picar esses legumes miudinhos, haverá uma área de superfície de contato maior com o calor e eles rapidamente darão sabor ao líquido.
Se cortados em tamanhos intermediário, fritos, passados na farinha e assados, emprestarão cor, doçura e corpo a, por exemplo, a um molho madeira.
A cozinha francesa criou vários cortes que são usados no mundo todo:

Brunoise:
Corte em cubos bem pequenos e uniformes. Geralmente os legumes cortados em brunoise são usados em molhos e refogados.
Jardinière:
Corte em bastões finos, longos e uniformes.
Macedoine:
São cubos maiores que os feitos em brunoise. Esse corte pode ser usado em cebolas, cenouras, aipos, nabos…
Paysanne:
É o mais livre de todos os cortes. Pode ser feito em formatos de círculo, quadrado e até meia-lua. Porém, os legumes devem ser cortados finos e não com espessura grossa.
Julienne:
São tiras fininhas, longas e uniformes. Talvez esse seja o tipo de corte mais básico na cozinha. A maioria das raízes são carnudas e firmes e podem ser cortadas em tiras longas finas. Cozinham em pouco tempo, na fervura, no vapor ou no refogado, e dão ótimas guarnições.
Chiffonade:
Esse corte é semelhante ao formato do julienne, ou seja, tiras bem fininhas, só que feito em folhagens, como alface, espinafre, couve…

Os cortes mais usados na cozinha profissional são brunoise, julienne e chiffonade, mas sempre é necessário usar uma boa faca afiada para facilitar o trabalho e ter mais segurança.
Na internet existem muitos vídeos que ensinam, como este:



Outra ótima opção são as mandolines, para picar legumes firmes como tubérculos e raízes. Esses raladores vêm com uma lâmina finas, outras mais grossas em forma de grade e um cortador ondulado. Têm também um suporte que protege os dedos e firma o legume. 
Mandoline
Fontes:
"Facas e cortes - Técnicas para cortar, trinchar, picar e filetar legumes, peixes, carnes e frutas", Charlie Trotter, Lyn Hall, Marcus Wareing, Shaun Hill, Editora Publifolha. 
"Le Cordon Bleu - Todas as técnicas culinárias", Jeni Wright, Eric Treuille, Editora Marco Zero
http://gastronomismo.com/

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Mundão de alimentos

O Ministério da Saúde catalogou uma lista de mais de cem alimentos do Brasil com potencial ou que já são consumidas.
É o estudo "Alimentos Regionais Brasileiros", que pode ser baixado de graça aqui.
Lá é possível conhecer plantas como o jambu, uma hortaliça muito comum na região Norte. É parecida com o agrião e vai em pratos como o pato no tucupi e o tacacá.
O guia só não menciona que o jambu causa algo maluco na boca. É uma sensação causada pela substância espilantol, que produz gelado e anestesia suave na língua e céu da boca. Isso aumenta a saliva e deixa o paladar mais apurado. Uma outra oportunidade falo mais sobre o jambu e seu fiel parceiro tucupi.
Pés de jambu

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A cuca e o fermento

Ficou assim a minha cuca

O modo como se faz a cuca alemã, bolo muito apreciado no sul do Brasil, mostra bem como funcionam alguns conceitos básicos da fermentação.

A receita começa em uma tigela, onde é misturado uma xícara (chá) de leite morno com 2 tabletes de fermento biológico (30 g) e metade de ½ xícara de açúcar. Junte depois 1 xícara de farinha e mexa até ficar homogêneo. Cubra com filme plástico ou pano úmido e deixe crescer em local aquecido por 30 minutos, é a pré fermentação primária nessa receita, que pode ser chamada esponja. Pode ser feita também em um forno com apenas 25 ºC.

Os líquidos usados para fazer o pão devem estar levemente mornos, com no máximo 30 ºC, pois se forem quentes, matarão o fermento, e se forem frios, farão com que a massa demore mais para crescer. A diferença entre usar água ou leite na receita de pão, é que a água produz uma casca crocante, enquanto que o leite favorece a formação de uma casca macia e um miolo mais branco.

Uma pequena quantidade de açúcar ajuda na reprodução das células de fermento, com relativa produção de gás que fará crescer a massa do pão, porém uma quantidade maior atrasará o crescimento, pois junto com o gás, o fermento também secreta álcool, que acaba interferindo no próprio fermento. Por isso os pães doces requerem mais fermento, ou levam mais tempo para crescer do que os salgados. O açúcar acrescenta sabor ao pão e favorece a formação de uma casca mais dourada.

A fermentação é o processo pelo qual enzimas (amilases ou diástases) presentes na farinha transformam açúcares em álcool e gás carbônico. Estes açúcares, a glicose e a sacarose, estão presentes na farinha com teores na faixa de 1% a 2% do peso e serão os primeiros a serem utilizados no processo de fermentação. A primeira fermentação pode durar cerca de 3 horas, dependendo da receita.

Na primeira fermentação as diástases das leveduras transformam os açúcares em CO2 e álcool. Essas diástases são chamadas de invertina, ou invertase, e cimase, e cada uma delas tem a capacidade de transformar um só tipo de açúcar. A invertase converte primeiramente a sacarose em glicose, que, em seguida, se transforma em dióxido de carbono e álcool. A cimase, por outro lado, transforma a glicose diretamente em CO2 e álcool.

Em seguida se produz uma segunda reação química, quando as amilases e as diástases transformam os amidos em açúcares chamados maltoses. Esses novos açúcares (3%) formados no mesmo processo de fermentação serão utilizados pelas leveduras e, consequentemente, irão se transformar em álcool e gás carbônico.

De volta para a receita
Depois dos 30 minutos, deve-se peneirar em outra tigela 5 xícaras de farinha e metade de ½ xícara de açúcar. Acrescente 1 colher de chá de sal. Adicione essa mistura, aos poucos, à massa crescida.
Acrescente 3 colheres de sopa de manteiga e 3 ovos. Amasse bem e transfira a massa para uma superfície enfarinhada. Sove-a por 25 minutos, ou até ficar lisa e soltar das mãos. Volte a massa para a tigela e cubra-a com filme plástico. Deixe crescer por mais 30 minutos em local aquecido.

Sal em uma receita doce? Loucura? O sal acentua o sabor dos alimentos. O sal além de elemento de sabor, também ativa as papilas gustativas realçando ainda mais o doce e ainda reforça a massa para que suporte o esforço resultante da sova e do crescimento. Porém cuidado, o sal em demasia ataca o fermento e retarda, ou impede totalmente a fermentação.

Durante o processo de mistura e sova ocorre uma elevação da temperatura da massa, em virtude da fricção das pás da masseira ou por fricção das mãos contra a massa e a mesa de trabalho. Eu uso a velha e boa mão. Uma sova dura cerca de 25 minutos.

É importante lavar e secar bem as mãos, já que estarão em contato direto com a massa. Tire anéis, pulseiras, relógio ou outros acessórios que possam entrar em contato com a massa.

Na primeira vez que você afundar a mão na massa ela estará grudenta e difícil de juntar toda de uma vez só. Continue afundando as mãos na massa até ela parar de grudar nas mãos. Conforme você for trabalhando a massa, vá salpicando um pouco de farinha nela para ir parando de grudar nas suas mãos. Outro truque é ir polvilhando as mãos com farinha conforme você for trabalhando a massa.

Use a parte mais forte das mãos - a base da palma, aquela parte que fica entre o seu pulso e a altura do dedão. Afunde as mãos ao mesmo tempo na massa, empurrando-a para a frente. É esse processo que ajuda o glúten a se desenvolver. Continue sovando até que a massa fique elástica.

Dobre-a no meio e empurre-a para a frente usando a parte mais forte da palma das mãos, até que a massa fique achatada. Dobre-a no meio de novo e empurre-a para a frente novamente. Repita esse processo por 10 minutos ou pelo tempo que a receita pedir. O processo de trabalhar a massa deve ter um ritmo constante. Não sove a massa devagar.

A massa pronta deve ficar elástica e com a superfície lisa. Se ainda houver grumos, a massa ainda precisa de um pouco mais de sova. Modele-a no formato de uma bola e deixe-a cair sobre a mesa. Se ela estiver pronta, ela vai conseguir manter o formato redondo. Outro jeito de conferir se a massa está pronta é cutucando-a de leve. Se ela voltar ao formato original depois de ser cutucada, é porque está no ponto certo.

Para o forno
Na finalização da receita é necessário misturar uvas passas e frutas cristalizadas na massa. Unte uma assadeira com manteiga e polvilhe farinha de trigo. Abra a massa na assadeira, alise-a e deixe crescer por mais 30 minutos.

Disponha gomos de maçã sobre a massa e reserve. A maçã verde fica melhor. Aí é a fase da farofa doce que vai por cima. Peneire numa tigela 1 xícara de farinha de trigo com 1 xícara de açúcar e uma colher de chá de canela e misture a ½ xícara de manteiga derretida. Mexa com as pontas dos dedos até obter uma farofa e espalhe-a sobre a massa.

Aí vai para o forno médio, previamente aquecido a 180 ºC por cerca de 45 minutos.

Streuselkuchen é o nome em alemão do bolo (Kuchen) cozido em tabuleiro de chapa (Backblech), habitualmente feito de massa lêveda doce (Hefeteig) composta por farinha, levedura e açúcar, levando espalhada manualmente por cima uma mistura  chamada Streusel, a qual é composta por pequenos torrões (Klümpchen) e migalhos (Bröckchen) , que são feitos pela mistura de manteiga derretida, açúcar e farinha de trigo.

Fontes:
"O pão na mesa brasileira", vários autores, Editora Senac Nacional.
"Técnicas de padaria profissional", Paulo Sebess, Editora Senac São Paulo.
"O que Einstein disse a seu cozinheiro: a ciência na cozinha: inclui receitas", Robert L. Wolke, Editora Zahar
http://pt.wikihow.com/Sovar-Massas