Pode um prato de comida ser uma obra de arte? Para Andoni Aduriz
sim. Ele defendeu na aula magna que
o ato de comer gera emoções, como qualquer apresentação artística.
Mas Aduriz se propõe a fazer criações inovadoras e ele mesmo
admitiu que essas são mais difíceis de serem aceitas pelo comodismo natural das
pessoas. Para ele o gosto não é o que vem primeiro na aceitação de um prato e
sim a construção cultural.
Nas Filipinas uma comida muito popular é o balut, um ovo de
pato com o embrião. Naquele país é aceito, aqui no Brasil de jeito nenhum.
Quem tem razão?
Criar também é estar na vanguarda, algo que implica muitos
riscos. Ele lembrou que o próprio significado primeiro da palavra é militar: é
a linha de frente numa batalha. E todos esses costumam morrer.
Isso diz muito, até mesmo na definição de vanguarda política
ou cultural, porque toda vanguarda também destrói a anterior. Uma substitui a
outra para que o ciclo da criação continue. Então além de enfrentar
resistências quem quer ser inovador também corre sempre o risco de ficar
obsoleto.
Para suportar essas barras Aduriz deu seus caminhos: cuidar
de sua equipe de trabalho, ter mais tempo para pesquisas, criar
formas de motivação e encontrar os recursos necessários. Desses itens ele falou
mais detalhadamente das equipes e da motivação.
Sobre uma equipe de trabalho o chef basco ressaltou primeiro
que as pessoas agem por mimetismo, aprendem com os outros. Ou seja, se você
estiver do lado de pessoas criativas vai acabar agindo criativamente. E também
se estiver do lado de pessoas que só reclamam da vida é claro que também vai
ter esse comportamento.
Em outra, das muitas frases de autoajuda que Aduriz falou, ele disse que
a vida é apenas a maneira como a encaramos. Por isso esse defendeu que esses
tipos de comportamentos devem fazer parte dos critérios de seleção para uma
equipe de trabalho.
E a motivação? Vem de dentro da pessoa ou de fora? Para Aduriz
só pessoas extremamente especiais, como Mandela ou Gandhi, conseguiram ter
motivação interna para lidar com os desafios da existência. O resto de nós normais
precisamos de ajuda externa.
A explicação dada foi que os seres humanos são sociais, não
vivem sozinhos. Aduriz também confessou ser adepto da neurolinguística, ciência
que estuda a elaboração cerebral da linguagem. “Las palabras son balas”, disse.
Se alguém só escuta, “você pode”, “você pode”, você pode”, vai acabar
conseguindo. Desse modo, o gestor tem um papel muito importante na motivação de
seus comandados.
E no caminho da vanguarda ressaltou a necessidade de
muito trabalho. “Pruebas, pruebas y error”, disse Aduriz sobre a rotina do
Mugaritz até obter resultados de sucesso. Trabajar mucho.
Para facilitar o cozinheiro sugeriu ferramentas que podem
ajudar a criatividade:
- Formas de ajudar a entender as criações para descobrir o
que os outros não vêm
- Criar surpresas nas inovações, vindas da intuição e que
escapem da lógica
- Usar metáforas nas criações. Na palestra ele mostrou um
exemplo de uma folha de camélia caramelizada, criada como uma metáfora do tempo
- Usar a interdisciplinaridade. O Mugaritz trabalha como
músicos, filósofos e vários outros profissionais
- Ter observação criativa. Trabalhar entendendo o contexto
das coisas é fundamental para qualquer ramo de atuação, mas Aduriz também
defendeu que é necessário ter a descontextualizacão. Ele citou o exemplo de um
merengue que passou do ponto em um dia no restaurante. Isso não foi jogado
fora, mas foi aproveitado como experiência sensorial: viraram maracas comestíveis
Sobre os vários restaurantes que copiam o Mugaritz, o chef
disse não se importar e até que se sente enaltecido com isso (apesar de revelar
que pelo menos gostaria que citassem a fonte). “El artista copia, el genio roba”.
Lembrou essa frase famosa de Picasso, mas depois revelou que o pintor havia roubado
essa sentença do escritor Oscar Wilde. E este também não havia sido o autor
original da frase, que é um dito popular. Coisas da criatividade.