Em 2013 o Brasil recebeu cerca de seis milhões de turistas,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) com base em números
da Organização Mundial do Turismo (WTO). A Espanha, que tem o tamanho próximo
do estado de Minas Gerais, teve a visita de 65 milhões de turistas.
O que isso tem a ver com este site de gastronomia? Tudo.
Essas informações foram passadas hoje (6 de maio) na abertura da palestra do
chef espanhol Andoni Luis Aduriz em São Paulo na Universidade
Anhembi Morumbi. Ele foi apresentado no auditório pela representante do
consulado espanhol, que também informou que dos 65 milhões de turistas, 650 mil
foram no país ibérico só para comer, conhecer a culinária espanhola.
Os restaurantes e profissionais de gastronomia da Espanha
são festejados hoje no mundo como artistas de vanguarda. Isso é o famoso valor
intangível. A experiência e a emoção de comer esses pratos não têm preço. Claro
que pode haver exageros nos elogios, mas o país se tornou referência porque
buscou reinventar a gastronomia.
Estudo cozinha faz pouco tempo, conheço profissionais da
área e já estagiei em um ótimo restaurante no Brasil. Então ainda tenho muito a aprender, mas minha impressão hoje é que
estamos muito longe de criar uma marca da culinária brasileira. Digo isso pela
baixa qualidade da mão de obra, falta de investidores e o clima pesado que
ainda existe nas cozinhas do Brasil, com muito assédio moral e pouca abertura
para inovar. Claro, o que não é desculpa para fazer diferente.
Andoni Luis Aduriz, chef do premiado Mugaritz na cidade de Errenteria falou justamente sobre criatividade e vanguarda em sua palestra, contou sua
realidade na Espanha. Para ele o que molda a cabeça de uma pessoa são seus
hábitos, por isso é tão importante que o caminho da criatividade comece
simplesmente com pensamentos criativos, isto é, se forçar todos os dias a
criar. Todos os dias.
Para endossar essa tese ele citou a mielina, uma substância
estimuladora responsável proteger o circuito neural. Segundo Aduriz, há
muitos cientistas que afirmam que a capa de mielina é mais rígida nas áreas do cérebro mais usadas, ou
seja, se a pessoa cria hábitos criativos seu cérebro automaticamente estará mais
propenso a esses pensamentos.
Aduriz provocou e disse que a cozinha tradicional é sinônimo
de desconfiança. Ele explicou que a espécie humana passou cerca de 250 mil anos
se alimentando com riscos, isto é, em sua evolução e falta de conhecimentos
cada refeição de nossos antepassados tinha a chance de ser letal porque não
haviam técnicas e saber sobre os alimentos. Apenas nos últimos 50, 100 anos a
tecnologia dos alimentos e a segurança alimentar se desenvolveu ao ponto de minimizar
vários riscos de saúde.
Porém o que ficou foi nossa base biológica, nossa memória
ancestral de que só a comida tradicional provada antes por vários membros mais
velhos da tribo é que é aceitável, caso contrário há riscos. Aduriz lembrou que
isso está em casa também, porque os primeiros pratos que aprendemos a amar e
confiar na maioria das vezes são de nossas mães ou avós.
Por isso ele defendeu que a cozinha só pode ser mudada
quando se cria o hábito de pensar diferente, de forma positiva sobre as
mudanças. Isso gera também um automatismo, mas agora de mudanças. “Somos lo que
hacemos repetidamente”, disse o chef.
Andoni Luis Aduriz |
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