quarta-feira, 6 de maio de 2015

Somos lo que hacemos repetidamente - parte 1

Em 2013 o Brasil recebeu cerca de seis milhões de turistas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) com base em números da Organização Mundial do Turismo (WTO). A Espanha, que tem o tamanho próximo do estado de Minas Gerais, teve a visita de 65 milhões de turistas.

O que isso tem a ver com este site de gastronomia? Tudo. Essas informações foram passadas hoje (6 de maio) na abertura da palestra do chef espanhol Andoni Luis Aduriz em São Paulo na Universidade Anhembi Morumbi. Ele foi apresentado no auditório pela representante do consulado espanhol, que também informou que dos 65 milhões de turistas, 650 mil foram no país ibérico só para comer, conhecer a culinária espanhola.

Os restaurantes e profissionais de gastronomia da Espanha são festejados hoje no mundo como artistas de vanguarda. Isso é o famoso valor intangível. A experiência e a emoção de comer esses pratos não têm preço. Claro que pode haver exageros nos elogios, mas o país se tornou referência porque buscou reinventar a gastronomia.

Estudo cozinha faz pouco tempo, conheço profissionais da área e já estagiei em um ótimo restaurante no Brasil. Então ainda tenho muito a aprender, mas minha impressão hoje é que estamos muito longe de criar uma marca da culinária brasileira. Digo isso pela baixa qualidade da mão de obra, falta de investidores e o clima pesado que ainda existe nas cozinhas do Brasil, com muito assédio moral e pouca abertura para inovar. Claro, o que não é desculpa para fazer diferente.

Andoni Luis Aduriz, chef do premiado Mugaritz na cidade de Errenteria falou justamente sobre criatividade e vanguarda em sua palestra, contou sua realidade na Espanha. Para ele o que molda a cabeça de uma pessoa são seus hábitos, por isso é tão importante que o caminho da criatividade comece simplesmente com pensamentos criativos, isto é, se forçar todos os dias a criar. Todos os dias.

Para endossar essa tese ele citou a mielina, uma substância estimuladora responsável proteger o circuito neural. Segundo Aduriz, há muitos cientistas que afirmam que a capa de mielina é mais rígida nas áreas do cérebro mais usadas, ou seja, se a pessoa cria hábitos criativos seu cérebro automaticamente estará mais propenso a esses pensamentos.

Aduriz provocou e disse que a cozinha tradicional é sinônimo de desconfiança. Ele explicou que a espécie humana passou cerca de 250 mil anos se alimentando com riscos, isto é, em sua evolução e falta de conhecimentos cada refeição de nossos antepassados tinha a chance de ser letal porque não haviam técnicas e saber sobre os alimentos. Apenas nos últimos 50, 100 anos a tecnologia dos alimentos e a segurança alimentar se desenvolveu ao ponto de minimizar vários riscos de saúde.

Porém o que ficou foi nossa base biológica, nossa memória ancestral de que só a comida tradicional provada antes por vários membros mais velhos da tribo é que é aceitável, caso contrário há riscos. Aduriz lembrou que isso está em casa também, porque os primeiros pratos que aprendemos a amar e confiar na maioria das vezes são de nossas mães ou avós.


Por isso ele defendeu que a cozinha só pode ser mudada quando se cria o hábito de pensar diferente, de forma positiva sobre as mudanças. Isso gera também um automatismo, mas agora de mudanças. “Somos lo que hacemos repetidamente”, disse o chef. 

Andoni Luis Aduriz

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