Sempre escrevi aqui que os alimentos da estação são mais saborosos e por
isso devem estar nos pratos. Estudando gestão de restaurantes no Senac (sou
aluno) descobri outros argumentos, econômicos, que fortalecem ainda mais o uso
dos alimentos de época.
E há ferramentas de gestão para conseguir dados estatísticos dos
alimentos para evitar perdas e se planejar melhor. Sobre o desperdício, há
formas de diminuir perdas com um controle mais adequado das mercadorias, dos
pedidos e das sobras. Sobre o primeiro tópico existem diversos cálculos para
acompanhar a manipulação e evitar perdas. Braga (2008) explica que uma grande
parte dos insumos utilizados na preparação dos produtos não está pronta para o
uso e necessita de manipulação, o que provoca perdas.
O dono do restaurante paga pela quantidade total, mas parte dela será
jogada fora no pré-preparo. Portanto, devem-se registrar essas perdas para
análise de custos e tomada de ações para redução de perdas.
Podem ser criadas tabelas para corrigir essas perdas em alguns insumos.
Esse fator, chamado de fator de correção (FC), mede a relação entre o peso
bruto (PB) e o peso limpo (PL) do alimento. Alguns autores chamam esse fator de
indicador de parte comestível (IPC). Entende-se por peso bruto o peso na forma
em que o insumo é adquirido; e por peso limpo o peso depois do insumo ser limpo
e estar pronto para ser utilizado.
Por exemplo, se um restaurante adquiriu 20 kg de filé mignon e no
pré-preparo pesou 15,63 kg, o fator de correção será FC = 20 / 15,63 = 1,28. No
cálculo do custo, o valor pago pela carne será dividido por 15,63 e não por 20.
Os desperdícios têm de ser considerados no custo.
Para diminuir desperdícios o FC ajuda a avaliar, por exemplo, os
fornecedores.
“Às vezes, o restaurante opta por um preço mais baixo, mas precisa ficar
atento aos desperdícios. Quanto maior o desperdício, maior o fator de correção
e menor a qualidade do fornecedor. Os insumos de alto consumo ou caros precisam
ser analisados com frequência e acuidade.” (Braga, 2008, p. 56)
Há épocas também em que certos alimentos estão fora da safra e
apresentam problemas de qualidade com alterações significativas nas perdas. As
variações apresentadas pelo fator de correção podem identificar esses períodos
e ajudar a planejar medidas inteligentes, que permitam manter a qualidade dos
pratos sem grandes elevações de seu custo, como a substituição por ingredientes
similares de época ou porcionamentos menores.
Na luta diária para reduzir os desperdícios deve-se ter em conta que o
FC é influenciado por vários fatores que podem ser melhorados ou levar a
exclusão de produtos, métodos ou mesmo pessoas se forem insatisfatórios, como a
região de cultivo; os vícios do produtor e do fornecedor do insumo, que muitas
vezes não eliminam sujidades como pedras e outros materiais estranhos na
colheita; o tipo do insumo; e os métodos, equipamentos e utensílios utilizados
pelo restaurante no pré-preparo, além do fator humano, como um funcionário que
não sabe a forma adequada de cortar um peixe.
A respeito do controle dos pedidos, muitos restaurantes utilizam na
cozinha um controle dos pratos à la carte apenas de forma verbal, o que pode
aumentar os erros. Os pedidos são digitados no caixa para discriminação em
notas fiscais e registro, o que nesse caso é benéfico para análises futuras dos
pratos menos ou mais pedidos. Mas não há um software específico para estudar
esse banco de dados.
Fonseca (2014) destaca que uma comanda pode também ser automatizada. Nesse caso, os dados são anotados em uma comanda simples e transferidos para um computador, que irá automaticamente distribuir os pedidos nos seus respectivos setores de produção, como cozinha, bar, copa ou cambusa. Além disso, o computador já faz com que as informações sejam automaticamente somadas, elaborando assim facilmente um relatório consolidado por mesa e do movimento geral do restaurante. Com o cruzamento de dados podem ser verificados e ajustados os volumes de consumo, movimentação de estoque e volumes de compras.
Fonseca (2014) destaca que uma comanda pode também ser automatizada. Nesse caso, os dados são anotados em uma comanda simples e transferidos para um computador, que irá automaticamente distribuir os pedidos nos seus respectivos setores de produção, como cozinha, bar, copa ou cambusa. Além disso, o computador já faz com que as informações sejam automaticamente somadas, elaborando assim facilmente um relatório consolidado por mesa e do movimento geral do restaurante. Com o cruzamento de dados podem ser verificados e ajustados os volumes de consumo, movimentação de estoque e volumes de compras.
Alimentos da Estação - alguns exemplos
Abóbora cabotiã |
Outono
Abóbora, abobrinha, acelga, alface, batata-doce, berinjela, brócolis,
chuchu, mandioca, nabo, pimentão, quiabo, rabanete, tomate, vagem, repolho,
abacate, banana, caqui, coco, goiaba, jaca, laranja, limão, maçã, maracujá,
melancia, pera e tangerina
Inverno
Abóbora, abobrinha, batata doce, berinjela, brócolis, cará, cenoura,
couve-flor, ervilha, inhame, mandioca, mandioquinha, nabo, acelga, alface,
chicória (escarola), couve, espinafre, mostarda, repolho, banana, laranja,
limão, mamão, melão, morango, pera, pinhão e tangerina
Primavera
Abóbora, abobrinha, alcachofra, berinjela, beterraba, cenoura, chuchu,
couve-flor, ervilha, mandioquinha, nabo, vagem, alface, almeirão, catalonha,
chicória (escarola), repolho, banana, caju, laranja, melão, morango e pêssego
Verão
Abóbora, abobrinha, agrião, alcachofra, alho, batata-doce, berinjela,
cenoura, chicória (escarola), chuchu, jiló, mandioca, milho verde, moyashi
(broto de feijão), nabo, pimentão, quiabo, rabanete, repolho, abacaxi, abacate,
ameixa, banana, caju, coco, figo, goiaba, jaca, laranja, limão, maçã, manga,
maracujá, melancia, melão, pera e uva
Os alimentos da estação são mais saudáveis porque apresentam maior
abundância de seus componentes, como as vitaminas e sais minerais, por exemplo.
É a programação genética de cada planta. Numa determinada época do ano, que
pode variar de espécie para espécie, disparam os mecanismos reprodutivos
aumentam as raízes e caules, produzem mais folhagens, geram as flores e os
frutos.
Mas a produção natural só acontece quando a planta está no seu estágio
mais sincronizado com o ecossistema, quando sua nutrição, desenvolvimento e
vitalidade são plenos. Tudo isso é passado para cada parte da planta que
frutifica e amadurece o tempo certo. Por isso seu aroma será inebriante, seu sabor
prazeroso e salivador (dá água na boca), terá maior concentração de sumo e
fibras (crocância), sementes maiores e entumescidas, vitaminas e sais minerais
serão abundantes.
O alimento fora da estação perde muito dessas características. Perde seu
cheiro característico, será mais seco e pobre nutricionalmente. Além disso,
para serem produzidas fora da época certa, precisam receber grandes doses de
fertilizantes químicos e agrotóxicos, insumos artificiais que são caros e
tóxicos para todos (solo, água, ar, fauna, flora, produtor e consumidor).
Fontes:
BRAGA, Roberto M. M. Gestão da gastronomia: custos, formação
de preços, gerenciamento e planejamento do lucro. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2008.
FONSECA, Marcelo Traldi. Tecnologias gerenciais de restaurantes.
7ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014.
MARTINS, L. - O Barato da Feira/São Paulo - Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor, 1999